terça-feira, 12 de maio de 2009

Capítulo 4: Ventos de Mudança (Parte 6)


Esta é a sexta parte do capítulo 4 da história que estou escrevendo. A quinta está aqui. Quando terminar a postagem, reunirei tudo em um arquivo *.pdf, para facilitar a leitura. Os três primeiros capítulos já estão em *.pdf e podem ser acessados neste link. As postagens deste capítulo são semanais, então a parte seis deve ser colocada no domingo ou na segunda que vem. Como já disse antes, se alguém quiser comentar, sugerir, criticar (*educadamente*), eu agradeço.

4º Capítulo: SEGUINDO O CAMINHO - Parte 6

— Muito bem, — Começou o Abade que na companhia de um noviço e um dos irmãos, pois não era adequado estar a sós com uma mulher. — creio que me deve algumas explicações.

— Há uma boa razão para tudo, Senhor.

— Que explicação pode haver para esta profanação! — Interveio horrorizado o jovem monge. — Vai queimar no Inferno por causa disso!

— Silêncio, Irmão Tiago! — Interveio o Abade com impaciência. — Sei o quanto é zeloso dos costumes, mas ambos sabemos que é preciso mais do que isso para alguém queimar no Inferno. Especialmente em tempos tenebrosos como os nossos. — Ele entrelaçou as mãos que eram grandes, porém bem feitas. — Estou aguardando suas explicações. — Alda sentou-se o mais ereta possível e encarou os olhos azuis do Abade.

— Foi a única maneira que encontrei para despistar as tropas da Rainha. Além disso, não poderia cavalgar tão rápido vestindo um vestido. — O jovem monge pigarreou. — Meus cabelos foram cortados para ajudar a compor o disfarce. Um dos meus companheiros tingiu o seu.

O Abade parecia satisfeito. Na verdade, ele realmente não se importava com a questão, estava somente sondando Alda e dando alguma satisfação para a comunidade.

— Você parece muito com seu pai quando tinha sua idade, principalmente com essa roupa e cabelo.

— Meu pai?! Conhece então...

— Sim, sim. — Toda a falsa severidade tinha sumido dos seus olhos. — Como De Mülle só teve uma filha, só pode ser a menininha dos gêmeos que batizei.

Alda se sentiu tranqüila. Poderia confiar nele? Algo dentro dela dizia que, sim. Relaxou os ombros. Já o outro monge pareceu ficar mais irritado ainda.

— Eu não me apresentei... Meu nome é Alda, como o Senhor deve saber. Fui convocada junto com outras pessoas pela Rainha das Fadas, só que não pudemos partir todos ao mesmo tempo. — Ela suspirou. — Tinha um dever a cumprir e, além disso, precisava libertar o Príncipe Guilherme, pois ele também é parte de tudo isso... da “profecia”. — Alda não queria dar maiores detalhes, pois não foi com a cara do jovem monge que estava presente e olhou com desdém para o monge que a encarava.

— Nada justifica... — O jovem monge começou a resmungar.

— Creio que não será está vestimenta que definirá se vou ou não queimar no inferno, irmão.

— E ainda blasfema! — Começou com dedo em riste. — Está muito nas Escrituras que...

— Conheço bem os textos sagrados, irmão. Aquele que não tem pecado que atire a primeira pedra. — Alda respondeu com voz pausada e desprezo no olhar.

— Chega de teologices por hoje. — O Abade interrompeu, levantando-se da confortável cadeira onde estava. — Bem se vê que é filha do seu pai! — Comentou em tom zombeteiro.

— Que disse, senhor?

— Seu pai tinha particular prazer em confundir os mestres com perguntas provocativas que eles eram incapazes de responder. Estudei com seu pai até que ele foi convidado a se retirar do mosteiro... Nunca teve vocação eclesiástica. Ele sempre diz que a culpa foi de Marc, mas a maioria dos mestres não gostava muito de De Mülle, porque ele não era tão humilde quanto deveria ser. — Alda ficou na dúvida se era elogio ou crítica. E fosse qual fosse, dirigia-se a ela, também. — Deve perdoar o Irmão Tiago, ele é um dos melhores, homem de minha maior confiança, mas não tem senso de humor e tem pouca imaginação, também. — O jovem monge ficou rubro. — Eu creio que Guilherme não poderá retomar a viagem tão cedo, vocês terão que permanecer aqui. — Não era um convite, o tom, ainda que cordial, era de ordem. — Aproveite para descansar.

— Estamos sendo perseguidos, Senhor. — Alda não conseguiu evitar um tom de nervosismo na voz. — E devem estar bem perto agora.

— Eu sei disso, só que ninguém ousará invadir esta casa, tenha certeza.

— Ousarão, sim, eles não têm respeito pelos lugares sagrados...

— E ao dar abrigo aos inimigos da Rainha apesar do Interdito, Pai, nos coloca a todos em perigo. — Alda encarou o jovem monge de novo. Afinal, o que ele queria? Que fossem atirados na rua com Guilherme mal se agüentando em pé?

— Que propõe, Irmão Tiago? Que esqueça nossos votos? Que eu deixe o jovem Guilherme morrer por exaustão, ou que eu os entregue aos inimigos de Deus? — Perguntou irritado. — Além disso, se as profecias estão para se cumprir, cabe a mim fazer a minha parte!

— O senhor conhece as profecias? — Alda perguntou, pois tinha muitas perguntas.

— Claro que sim. Há uma cópia do códice aqui e sempre aguardei pacientemente pelo seu cumprimento. — Agora Alda já sabia por que seu pai as conhecia tão bem, embora não tivesse tido tempo de lhe falar tudo sobre elas, ou melhor, não lhe dissera quase nada.

— Eu poderia...

— Pai! — Irmão Tiago suplicou. — A biblioteca fica no claustro, deixar uma mulher entrar...

— Creio que você não se sentirá muito ofendido se tiver que guiar a Senhora Alda até a biblioteca. — O Abade falou irônico.

— É claro que, sim. Eu preferiria trazer o livro. — Ele falou rápido.

— Como quiser. Pode ir buscá-lo agora. — Depois que o jovem saiu, o Abade virou-se para Alda e tocou no seu rosto que estava frio e tinha uma expressão de profundo cansaço. — Deve descansar também menina, pois tenho certeza de que terão muito a fazer. — Sorriu rápido. — Não sei como Guilherme não conseguiu perceber que você não era um rapaz! — “Continua distraído...”

— Eu, também. — Alda respondeu com outro sorriso.

— Você tem os mesmos olhos e nariz de seu pai... o cabelo também se parece. Há pouco de sua mãe em você, mas não tenho certeza, pois não me lembro bem dela. — Fez pausa. — Espero que seu pai esteja bem. — A tristeza nos olhos de Alda fez com que percebesse que não. — Rezarei por ele, então, descanse agora, minha filha. Francisco irá levá-la até o aposento onde estão seus companheiros. — Falou apontando para o noviço. — Se Tiago estivesse aqui iria se horrorizar outra vez... Ainda tem muito que aprender!
XXX

As tropas de Lucília e Humberto encontraram a fazenda abandonada onde eles haviam parado. Humberto inspecionou cuidadosamente os rastros e disse:

— Eles não partiram há muito tempo. Devem estar por perto!

Lucília, ao tentar cruzar a porta da casa, sentiu-se tonta e segurou-se firme para não cair. Detestava quando isso acontecia! Detestava descender de uma linhagem de bruxas! Detestava aqueles malditos poderes e, por isso, nunca se esforçou por aprender a utilizá-los, só que eles se tornavam cada vez mais incômodos e estava chegando à conclusão de que não poderia mais fugir. Se não os dominasse, seria dominada por eles. Ela recobrou o equilíbrio, retirou a luva da mão direita e tocou o umbral da porta:

— Eles foram para o mosteiro que fica aqui perto. — Fora isso que lhe viera à mente na voz de Guilherme quando ia cruzar a soleira, exato lugar onde o rapaz, horas antes, pronunciara estas palavras. Esse seu dom, que lhe permitia ter visões do passado tocando objetos, merecia ser lapidado. — Há um mosteiro no mapa, não há?

— Como sabe disso? — Perguntou Felipe. — Também gosta de brincar de bruxa, senhora, como brinca de cavaleiro? — De repente ele sentiu o ar fugir dos seus pulmões e se dobrou sobre o próprio corpo. Não conseguia falar. Lucília passou por ele e sem olhar comentou:

— Sabe, eu realmente não consigo controlar essas coisas, especialmente quando estou de mau humor. — Ela colocou a luva novamente. — Felizmente para você, acho que não estou tão aborrecida no momento. — Ele caiu no chão, e conseguiu respirar outra vez, mas suas pernas tremiam de medo. — Portanto, pare de frescuras e vamos embora daqui!

Humberto de Dorsos olhou a cena com fria curiosidade. Não gostou de Lucília desde o seu primeiro encontro, mas a queria como aliada, não como inimiga.

3 pessoas comentaram:

Hhehehe

Coitado do Thiago.


Ele me lembra alguem que conheci...


Mas legal, principalmente ver Lucilla lidando melhor com os seus dons.

Gostei muito desse capítulo, ou parte de capítulo, eu li toda a sua história desde do começo e adorei, estou esperando para poder ler mais :D, quanto ao Thiago, quando você falou num dos capítulos que tinha personagens demais e que talvez tivesse que acabar com alguns, eu discordei ou discordo, todos seus personagens são realmente muito interessantes, com exceção do Thiago que é realmente desnecessário, talvez até por que já tenha um personagem com a mesma linha de pensamento que ele, que é o Guilherme, com a diferença do Thiago ser monge.

Sister, obrigada por comentar. ^_^

Mas no caso do Thiago, ele tem uma função... Não agora, não terá nada a ver com a Alda, mas ele é importante...

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