domingo, 28 de fevereiro de 2010

Jornal de Brasília dá destaque aos doramas



Qual não foi minha surpresa agora a pouco ao abrir o principal jornal de Brasília, o Correio Braziliense, e encontrar uma grande matéria sobre doramas ou novelas japonesas, coreanas, e chinesas. A matéria fala das produções, entrevista o escritor e roteirista Taichi Yamada, e conversa com fãs das novelas orientais que colocam as dificuldades que os interessados encontram no Brasil. Eu, por exemplo, me desanimo por causa da dificuldade ou da minha preguiça.

Eu não sou extremada a ponto de considerar que as novelas brasileiras são ruins e as orientais são boas; elas têm formatos diferentes, objetivos diferentes. Claro, que eu tenho mil críticas às produções nacionais, mas elas falam de nós, ou, pelo menos, de como nos vemos e/ou imaginamos. Isso não quer dizer, que eu não deseje que doramas sejam lançados aqui no Brasil em DVD, e acredite que uma TV que colocasse novelas orientais no ar, ou séries da BBC, com qualidade teria grandes chances de conseguir altíssimas audiências. Sim, eu não pensaria duas vezes para escolher entre um dorama e uma novela do Manoel Carlos.

Eu só vi um dorama de Taiwan até hoje, Mars, e não achei tosco de forma alguma, como uma das meninas entrevistadas afirmou. Adoraria poder encontrar o artigo citado na matéria, "Refletindo a sociedade: telenovelas no Brasil e no Japão", porque deve ser muito curioso traçar um quadro comparativo entre os tipos de produção. Como gosto de História da Telenovela, tenho um bom material aqui em casa, esse só viria a acrescentar. E, claro, achei a entrevista com o autor Taichi Yamada, epecialmente quando ele responde porque as novelas japonesas podem ter finais infelizes.

Segue o texto do Correio Braziliense, na íntegra, depois da barra. Até procurei a imagem que aparece na reportagem para postar aqui. Então, que ninguém venha me encher a paciência atribuindo a mim títulos, subtítulos ou afirmações que estão na matéria como tentaram fazer (*e ainda estão fazendo*) com outras matérias que postei aqui no blog. Acredito que a matéria seja somente para assinantes, não vi o link em aberto no site do jornal, tampouco vou procurar.

Novela de cabeça para baixo

Que Manoel Carlos que nada! Com a ajuda da internet, a nova geração está descobrindo a riqueza dos folhetins produzidos do outro lado mundo

Quando se fala no Japão, terra dos samurais e da tecnologia de ponta, dificilmente se pensa em novelas. Embora o arquipélago seja um grande produtor dos folhetins, as únicas tramas nipônicas transmitidas no Brasil foram Haru e Natsu, exibida pela Band em comemoração ao centenário da imigração japonesa, e Oshin (essa só em São Paulo). Contudo, para os fãs das novelas asiáticas — os chamados doramas —, não há obstáculos.

Aline Freitas, 19 anos, descobriu os doramas na internet, único canal disponível para os fãs. Enquanto procurava vídeos de música, uma novela de Taiwan chamou a sua atenção. Fisgada pela narrativa, a estudante resolveu pesquisar tramas de outras nacionalidades. “As japonesas têm histórias melhores, mas as coreanas têm atores perfeitos. Eles também mudam a história original dos mangás (os gibis nipônicos), diferentemente das tailandesas, que são muito toscas.”

A paixão pelos doramas é fruto da fascinação que Aline tem pelo mundo oriental desde criança, quando acompanhava os animes (desenhos animados) transmitidos pela extinta TV Manchete. Com o tempo, a estudante passou a apreciar os quadrinhos e a música, bagagem que ela garante ser de grande ajuda no curso de letras japonês. “Estou aprendendo muitas frases e expressões, além da cultura, que é muito diferente.”

arolina Nonato, 22, é outra entusiasta das produções televisivas orientais. “Fiquei totalmente apaixonada por dorama — foi a coisa mais linda que eu já vi”, derrete-se a jovem, que já tinha afinidade com o universo dos mangás e dos animes. Hoje, Carolina assiste a cerca de 60 novelas por ano, e coleciona CDs, DVDs, calendários e pôsteres importados das suas séries favoritas. A paixão pelos doramas acabou dando origem a um blog de notícias (www.dramasinn.com), por meio do qual ela conheceu fãs do mundo todo, inclusive Aline, que é sua veterana na faculdade.

Nem Aline nem Carolina assistem às novelas brasileiras, que consideram muito demoradas e repetitivas. Essa preferência deve-se à diferença entre as produções dos dois países: no Japão, os folhetins são semanais, e as histórias têm cerca de 12 capítulos, pois duram apenas uma estação do ano. Os temas também são diversificados e variam de acordo com a faixa etária e com o horário de exibição. “Creio que as novelas baseadas em mangás ou animes são as que atraem a atenção do público jovem”, disse o professor Mauro Neves Junior, do departamento de estudos luso-brasileiros da Universidade de Sofia, em Tokyo, em entrevista por e-mail.

Há histórias policiais e de suspense, mas o bom e velho dramalhão também está presente. Conhecidas como ren’ai, as novelas românticas costumam ter como personagens principais a kintsuma (esposa infiel) ou jovens envolvidos em triângulos amorosos. Autor do estudo comparativo Refletindo a sociedade: telenovelas no Brasil e no Japão, Mauro observa que as dores de amor são o elemento mais familiar entre as novelas dos dois países. A diferença só aparece no último capítulo. Para os nipônicos, é comum o final ser infeliz e sem reconciliações ou casamentos. “Não é que seja imprescindível fazer o público chorar, mas a estrutura da narrativa japonesa transmite mensagens mais próximas à realidade.”

“A TV japonesa tem dois elementos fundamentais: o discurso da unidade nacional e a intimidade com o público. Eles falam com o telespectador como se cada um deles fosse importante”, explica Donatella Farani, professora de literatura japonesa da Universidade de Brasília (UnB). São esses valores que estimulam a produção de programas destinados a cada tipo de público.

Galãs multitalentosos e delicados

Os galãs que estrelam os títulos voltados para adolescentes são conhecidos como tarentos, artistas moldados não somente para atuar, mas também cantar, desfilar e apresentar programas e telejornais. Esses profissionais multiuso são uma herança do século 18, quando eram reverenciados os artistas de talentos variados, como as estrelas do teatro kabuki e as gueixas. O gosto pelos personagens populares da época foi registrado em pinturas, que tinham os artistas como principais retratados. “Os japoneses compravam os livros ilustrados e as xilografias como um jovem, hoje, compra mangás e pôsteres dos ídolos”, compara Donatella, que também foi apresentadora e produtora no canal público japonês, o NHK.

Geralmente essas estrelas seguem o estilo bishonen — expressão usada para descrever meninos com aparência delicada. Tanto homens afeminados quanto garotas masculinas não são raros na dramaturgia nipônica, resultado da valorização que o oriental dá ao visual andrógino. Um exemplo é a novela baseada no mangá Hanazakari no kimitachi e (Para vocês na flor da idade), que já ganhou versões japonesa, coreana, tailandesa e chinesa. A trama conta a história de uma menina que se veste de homem para se infiltrar em uma escola masculina em busca do seu amor.
O escritor e roteirista Taichi Yamada é conhecido no Japão como o maior nome das novelas de enredos familiares, e já assinou dezenas de histórias em mais de 40 anos de atuação. Em entrevista à Revista do Correio, Yamada fala sobre o cenário da dramaturgia japonesa:

Qual a importância da novela no Japão? O que faz uma boa novela japonesa?

Tem sido difícil criar uma novela de grande sucesso ultimamente. As novelas faziam sucesso nos anos 1970 e 1980, mas à medida que o entretenimento se diversificou e tornou-se possível a gravação dos programas, as pessoas pararam de assistir aos capítulos no horário de exibição. O telespectador procura desde puro entretenimento a uma história artística com um significado profundo. Entretanto, frequentemente temos de competir por audiência, o que acaba com alguns projetos muito bons.

Os novos costumes e a nova família japonesa criaram um novo tipo de novela?

Por causa das dificuldades causadas pela Segunda Guerra Mundial, o principal objetivo do povo japonês era buscar a riqueza. Conforme as pessoas melhoravam de vida, começou-se a valorizar a riqueza individual. Essa mudança enfraqueceu a união familiar e minhas novelas refletem essa realidade.

Por que os japoneses aceitam finais tristes?

O Japão sofre muito com terremotos e tufões. Esse longo histórico de desastres nos fez aprender a aceitar a realidade. A tristeza das novelas pode ser uma oportunidade de saber que você não é o único que sofre, e também de perceber a felicidade que você tem.

Você acha que as novelas podem ajudar na aproximação das culturas brasileira e japonesa?

Eu considero filmes, novelas e livros ferramentas muito úteis para descrever a realidade em detalhes, o que não pode ser feito por meio de um documentário. Assistir às novelas dos dois países é um meio eficiente e maravilhoso de entender o outro.

8 pessoas comentaram:

Ah eu gostaria muito de ver doramas exibidos por aqui, assim como fazem com novelas mexicanas, colombianas, venezuelanas... Além de ser uma coisa nova nesse marasmo que é a programação do Brasil, eu não teria que gastar meu tempo baixando, hehehe!
Só que daí provavelmente viria outra "novela": a adaptação. Creio que dorama só se daria bem dublado, já que não vai dar pra ler explicações de piadas com algo da cultura japonesa/coreana/etc... Eu pelo menos não me importaria, só de exibir ficaria feliz, não sei quanto aos fãs mais extremados...
Bom, quanto ao caso dos "finais infelizes", eu devo admitir que odeio quando o dorama não termina naquele "...e viveram felizes para sempre", sou do tipo que prefere que pelo menos na ficção as pessoas fiquem bem. Mas não condeno finais tristes, se for bem escrito é até aceitável.
E é uma coincidência engraçada a foto de HanaKimi, pois esse é o dorama que eu imagino que faria muito sucesso se fosse exibido por aqui.

Oláaa....
não sei se você conhece (provavelmente sim) hahaha
mas tai a dica
http://www.mysoju.com/
eu assisto as novelas ai =)

Gostei muito da matéria, acabei de encontrar ela aqui na revista do correio.
Acho muito importante a popularização dos doramas, quem sabe assim ajuda a diminuir o preconceito que muitas pessoas tem com a cultura japonesa...

Que surpresa ver uma matéria dessas num jornal nacional. Ficou bem interessante.
O primeiro dorama a que assisti foi Kimi Wa Petto, foi amor à primeira vista, depois fiquei um bom tempo focada apenas nos japoneses, agora comecei a ver alguns coreanos. Não dou preferência a um ou outro desde que a história seja bacana mas, eles têm as suas diferenças. O que não me prende a novelas brasileiras ultimamente é a repetição. Acabei percebendo que as minhas novelas brasileiras favoritas são todas de época. =P Das poucas mais atuais de que eu gostava, pouco me lembro. Das mexicanas que já vi, só gosto de Café com Aroma de Mulher, o título é horrendo mas, eu adorava a Gaivota enchendo a cara nos botecos da vida e dando a volta por cima. Hahahaha!
Enfim, uma boa história, é boa em qualquer lugar, as diferenças culturais só nos enriquecem.

Bem, bem, se algum dorama conseguir chegar às nossas TVs abertas (*por assinatura é outra história*) teria que ser dublado. Não tem jeito.

Caberia aos fãs fazer sites explicativos e boa propaganda (*caso merecida*) ou críticas construtivas. Com sorte, talvez, publicassem aquelas revistas informativas de propaganda. Quem sabe?

Mas acho importante a possibilidade de abrir espaço para lançamentos em DVD. Veja que a Livraria Cultura parece que está se saindo bem com as séries históricas da BBC. Quem sabe os doramas não precisam somente de alguém interessado?

Curti bastante a matéria, é sempre importante ver esse tipo de matéria em jornais nacionais. Bem mais importante do que saber que a atriz de malhação foi à praia com o colega de novela, ou que o cantorzinho adolescente do mês fez uma tatuagem no pé.

Ah, eu tbm AMO "Café com Aroma de mulher," o melhor era o apelido da novela, "Mulher com aroma de cachaça," uma novela realmente épica e que fazia propaganda dos produtos nacionais da Colômbia como a aguardente, café etc. e ainda falava sobre os "boia-frias" deles.

Tá aqui o link para o artigo do Mauro Neves Jr. que vc disse que queria ver, "REFLECTING SOCIETY: TV DRAMAS IN BRAZIL AND JAPAN": http://orpheus.ucsd.edu/las/studies/pdfs/neves.pdf
O detalhe é que é em inglês.

Related Posts with Thumbnails