segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Kanpai: É Murakami, mas não é yaoi. Entenderam?



Me perguntaram no Twitter (*não sei linkar direto para a discussão, infelizmente*) se eu achava a propaganda do novo mangá da Newpop, Kanpai (Kimi no Unaji ni Kanpai! - キミのうなじに乾杯!), preconceituosa. Para quem não sabe, e eu não sabia até que alguém da editora comentou comigo sobre a série, é material de autoria de Maki Murakami, mais conhecida por Gravitation (グラビテーション). O trecho da propaganda do Anime-Pró que o colega lá do Twitter achou preconceituoso ("eu senti que ficou algo meio "Olhem, é daquela autora famosa, de qualidade, mas não é gay, então podem ler sem medo"") é este aqui :
Com todo o bom humor e com pitadas de ação e romance, esse mangá é da autora Maki Murakami. Para quem não associou o nome à pessoa, Maki é a mangaká de Gravitation, publicado no Brasil pela Editora JBC. Mas, ao contrário desta obra anterior da autora, dessa vez não temos polêmicas de casais yaoi, apenas uma boa e velha comédia como a autora sabe muito bem fazer. O traço evoluiu muito se comparado com Gravitation, e é uma ótima pedida para quem quer ver o avanço da desenhista.
Eu não vejo como preconceito (*ou só preconceito*), vejo como covardia mesmo, e o Júnior Fonseca, de quem eu gosto muito e a quem eu tenho muito respeito, que me perdoe, mas foi uma propaganda bem infantil com certos trechos em negrito para destacar, entre outras coisas, que não era um mangá "gay" ou de "menininha" (*Obrigada, Diego*). Não sem quem escreveu a review (*até desconfio*), mas precisava enfatizar que era um mangá "sem polêmicas", assim, "uma boa e velha comédia"? Aliás, o que é uma boa e velha comédia? Não ter polêmicas é sinal de "mangá seguro", "limpinho"? É aquela coisa "para toda a família" (*mas que só pensa muitas vezes no garoto de dez anos ou no de trinta que nunca cresceu*), é isso?

Vamos lá... Qual é a obra mais famosa da autora? Gravitation. Se Kanpai chegou no Ocidente foi por causa de? Gravitation. Qual o maior sucesso de Murakami pela Tokyopop (*que serve de ponte para a NewPop*), Gravitation ou Kanpai? Gravitation. Se você quiser ver o melhor traço de Murakami deve procurar Kanpai? Não, Gravitation EX (グラビテーションEX) que foi lançado simultaneamente em vários países e é de 2004, enquanto Kanpai é de 2000, segundo o Mangaupdates. Pode até ser – e dizem que foi mesmo, mas no Brasil ninguém publica vendagens – que Gravitation tenha sido um fracasso em nosso país. Ainda assim, foi essa série que fez a fama de Murakami e eu duvido muito que Kanpai seria percebido sem ele.

Mas para os fãs de yaoi, sem problema, porque é possível fazer yaoi de tudo. qualquer coisa MESMO. A própria Murakami fez um doujinshi yaoi de Kanpai. Assim como produziu muito material ligado à Gravitation. Eu acho engraçado é que tem gente que acha que não ser yaoi é propaganda “positiva” e se esquece que para os homofóbicos de plantão, Murakami está marcada. A questão é você quer vender? Sim? Para quem? Kanpai é seinen, mas é Murakami e ela é quase sinônimo de yaoi na cabeça de muita gente. É o mesmo caso de Fumi Yoshinaga. Aliás, indo na mesma linha, li uns comentários muito curiosos quando a Taiyosha listou Ooku erradamente como seinen... tsc... tsc...

Eu que não gosto de Gravitation e não me interessei por Kanpai, aguardo o resultado da "propaganda". Eu quero ver é a NewPop lançando shoujo e josei, o que faz algum tempo que a editora não faz. E queria muito que lançassem mais material da autora de 1945, mas não sei se devo ter esperanças...De qualquer forma, o que vocês acham da propaganda?

9 pessoas comentaram:

Minha opinião é a seguinte: o texto não é tão pejorativo quanto outros comentários que vi por aí acerca do mangá falando desse mesmo motivo, mas acho que foi uma bela de uma escorregada do site o fato de passar meio que a ideia de que "Kanpai não é mangá de viado ou menininha, graças a Deus!!!".
Utilizar destes tipos de comentários é reafirmar aquela noção de que mangás para mulheres - afinal yaoi necessariamente não é um mangá gay - é um subproduto. Quantos mangakás já não migraram de um gênero pra outro? Acho que bastava dizerem que é uma história shounen, pronto. Ficar enfatizando que o mangá não traz "polêmicas yaoi" - e em negrito, que podre - é consolidar ainda mais esse bendito preconceito.
Não desmereço o site, mas achei que essa foi uma derrapada nojenta.

Bom, como eu traduzi o primeiro volume antes de sair da NewPOP, acho que vou tecer alguns comentários. Não, não fui eu quem escrevi aquele release – como eu faço questão de deixar claro, nada tenho mais a ver com a editora desde que me desliguei dela. Inclusive a tradução do segundo volume não será minha.
Em Kampai a editora estava tentando ser Rumiko Takahashi – e sinceramente eu acho que ela se saiu bem e merecia ter ido mais longe. De um modo geral minha opinião é essa. O público de Gravitation não é o mesmo ali e acho que eles não pecaram – estavam enfatizando que o produto não era dirigido ao mesmo público. Eu teria feito o mesmo e isso não é homofobia da editora. Muita gente poderia deixar de comprar se associasse o produto a uma autora de yaoi e você sabe disso. Uma leitora de yaoi poderia pensar "ih, os personagens são hetero e não tem um climazinho suspeito" (sério, não é visão minha – a comédia ali corre em alta velocidade demais para até rolar algum tipo de investigação psicológica de personagem, e sinceramente, não precisa) e ao comprar, sair falando mal da série. Enfatizar que os dois não pertencem ao mesmo público é necessário.

Certas coisas para mim são procurar cabelo em ovo.

Maravilhoso artigo, Valéria, achei esta propaganda triste de doer... como fã de shoujo e yaoi, mais uma vez me sinto jogada para escanteio pelas editoras brasileiras.

Com este tipo de mentalidade, ficamos até desencorajados a pedir material BL para as editoras ou esperar que eles escolham publicar algum título que flerte com o gênero.

Odeio estas picuinhas e falta de respeito internas. É pior do que o descrédito que os fãs de mangá como um todo ainda sofrem por parte de outros grupos.

Não sou lá muito fã da Murakami, mas ela tem seus méritos. Também achei o anúncio meio infantil, parece algo vindo daquele fórum escabroso da JBC.
Acho que, nesse ritmo, o mercado de yaoi/BL nunca terá muitas chances no Brasil. Uma pena.

Alexandre, vindo de você, que tem aversão por yaoi e um desprezo que mal consegue disfarçar por shoujo, não me espanta.

é ver cabelo em ovo, porque o ovo não é seu. aliás, eles poderiam fazer a propaganda de forma muito mais elegante e sem ferir ninguém, mas optaram por este tipo de anúncio. Muito feio para a NewPop.

Desde quando tenho desprezo por shoujo só por dizer que não gosto de boa parte deles? Já disse mais de mil vezes que entendo perfeitamente o seu papel no mercado e sei o quanto ele é importante. E já listei shoujos dos quais gostei. Mas não vou discutir isso.

Eu concordo com o Lancaster, Valéria. Acho que esse é mais um caso de "procurando cabelo em ovo". Uma coisa é dizer:

"dessa vez não temos polêmicas de casais yaoi, apenas uma boa e velha comédia como a autora sabe muito bem fazer."

Outra coisa completamente diferente é dizer:

"Aqui não tem viadagem, graças a Deus. Comprem tranquilos."

Isso seria colocar palavras na boca do autor do release. Dizer que um mangá não tem temas polêmicos como casais yaoi não tem nada a ver com homofobia. Pensar tal coisa já seria um pouco de "mania de perseguição".

Não se esqueça de que a editora tem que se preocupar em vender. E muitos leitores (homofóbicos ou não, aí já é problema deles) poderiam fatalmente deixar de comprar se tivessem qualquer suspeita de que Kampai fose um mangá Yaoi e, quem sabe até, fazer uma propaganda negativa do mangá.

Então por quê não alertar quanto a esse detalhe? Alguns "militantes" ou membros da "irmandade" (como diria Orlando Drummond) podem até não gostar desse release. Mas não há nenhuma ofensa nesse release. O texto está elegante o suficiente e não tem ninguém ferindo ninguém aí.

E na boa, Valéria, o Alexandre pode até ter aversão por yaoi. Tá no direito dele. Também não gosto muito de yaoi, mas isso não faz de ninguém um homofóbico. E também não impede ninguém de julgar ou apreciar um mangá Yaoi se for bom.

Mas daí a dizer isso e ainda dizer que ele tem "um desprezo que mal consegue disfarçar por shoujo", "é ver cabelo em ovo, porque o ovo não é seu"?! Pega leve, Valéria! Você tá sendo injusta! Não é porquê ele não tem a mesma opinião que a sua que você precise contra-atacar!

Você sempre clamou tanto pelo respeito às opiniões dos outros! Espero que não seja você a se esquecer disso agora!

Fique com Deus!

Eu concordo com o Lancaster, Valéria. Acho que esse é mais um caso de "procurando cabelo em ovo". Uma coisa é dizer:

"dessa vez não temos polêmicas de casais yaoi, apenas uma boa e velha comédia como a autora sabe muito bem fazer."

Outra coisa completamente diferente é dizer:

"Aqui não tem viadagem, graças a Deus. Comprem tranquilos."


Vamos lá, eles disseram exatamente isso em outras palavra, mas não seria mais cordial escrever algo como “Maki Muramaki mostra toda a sua versatilidade em Kanpai, pois se afasta do gênero que a consagrou, o yaoi, mantendo a qualidade.” Viu como ficou diferente? Explicar nestes termos que não é yaoi é, sim, tentar dissociar a obra do gênero que consagrou su autora.

Isso seria colocar palavras na boca do autor do release. Dizer que um mangá não tem temas polêmicos como casais yaoi não tem nada a ver com homofobia. Pensar tal coisa já seria um pouco de "mania de perseguição".

Veja que “temas polêmicos, como mangás yaoi” é diferente de “não temos polêmicas de casais yaoi”, na segunda afirmativa, o foco é o yaoi.

Não se esqueça de que a editora tem que se preocupar em vender. E muitos leitores (homofóbicos ou não, aí já é problema deles) poderiam fatalmente deixar de comprar se tivessem qualquer suspeita de que Kampai fose um mangá Yaoi e, quem sabe até, fazer uma propaganda negativa do mangá.

Você acha que não vou fazer? Sabe que se ficarem me enchendo muito, começarei a desejar que a maldição seja de Maki Murakami, e aí, se Gravitation vendeu realmente mal, que o dano se estenda a outra de suas obras. Aliás, pensando bem, seria até interessante para dissociar o suposto fracasso do fato de ser yaoi.

Então por quê não alertar quanto a esse detalhe? Alguns "militantes" ou membros da "irmandade" (como diria Orlando Drummond) podem até não gostar desse release. Mas não há nenhuma ofensa nesse release. O texto está elegante o suficiente e não tem ninguém ferindo ninguém aí.

Desculpe, não feriu você, homem, (que se vê como) branco, heterossexual, etc. etc. etc., os outros são “alguém”, assim como você e, aqui neste blog, têm voz, ainda que não tenham em outros espaços. Elegante? Certo, é questão de opinião.

E na boa, Valéria, o Alexandre pode até ter aversão por yaoi. Tá no direito dele. Também não gosto muito de yaoi, mas isso não faz de ninguém um homofóbico. E também não impede ninguém de julgar ou apreciar um mangá Yaoi se for bom.

Conheço a aversão do Alexandre por yaoi, e ela é irrelevante neste caso, a questão está na forma como a release foi redigida e que, para alguns, é algo normal, já que se quer separar joio do trigo. E o joio, claro, é o shoujo-yaoi.

Mas daí a dizer isso e ainda dizer que ele tem "um desprezo que mal consegue disfarçar por shoujo", "é ver cabelo em ovo, porque o ovo não é seu"?! Pega leve, Valéria! Você tá sendo injusta! Não é porquê ele não tem a mesma opinião que a sua que você precise contra-atacar!

Conheço Alexandre faz 10 anos pelo menos. Temos uma amizade apesar das diferenças e eu sei o que estou falando.

Você sempre clamou tanto pelo respeito às opiniões dos outros! Espero que não seja você a se esquecer disso agora!

Liberdade de expressão não é liberdade de opressão. Isto é, desqualificar as reclamações alheias, porque a gente não se sente atingido pelo problema. Pare e pense. Eu poderia simplesmente nem publicar esse imenso comentário, mas cá estou eu fazendo isso e comentando, porque achei importante.
É possível não se gostar de um gênero, de um tipo de mangá, de um autor/a. Eu tenho minhas preferências, mas a estratégia da NewPop foi falha. Se der certo, ótimo para eles. Mas desconfio que Maki Murakami esteja contaminada na cabeça de muita gente, ou a release não se esforçaria tanto em apontar o contrário.

Eu to bobo com os últimos comentários. Jader e Lancaster, vcs precisam se colocar no lugar dos outros. Essa propaganda da new pop foi muito infeliz, foi o tipo de papo de gente hipócrita. Existiam formas bem inteligentes de falar sobre a nova obra da Maki Murakami...

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