sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Comentando Amor sem Escalas



Acabei de voltar da sessão de Amor sem Escalas (Up in the Air). O título em português é uma armadilha, pois sugere uma comédia romântica, coisa que o filme não é. O protagonista, George Clooney, é funcionário de uma empresa que intermedia demissões. Ele passa parte considerável de seu tempo voando, daí o título que talvez remeta, também, ao distanciamento em relação aos demitidos. Tudo é muito profissional, tudo é muito limpinho... ou assim deveria ser. Mas há outro fator, a personagem de Clooney adora viajar e alimenta o sonho de acumular 10 milhões de pontos em milhagens aéreas e se tornar cliente über-vip da American Air Lines.

Já a fala dos demitidos é sempre carregada de emoção e nos puxa para o chão, o desespero de dedicar 10, 15 anos a uma empresa e, simplesmente, ser jogado fora. Essa parte do fime me fez lembrar de quando houve uma “reestruturação” em uma grande operadora de cartões de crédito na qual trabalhei e todo um setor foi despedido sem nenhum aviso, e só deixaram as grávidas e os bilingües. Tudo muito cruel, mas assim é o capitalismo.

Enfim, a vida de Clooney é demitir pessoas e fazer com que elas sintam que isso lhes abre novas oportunidades. Ele dá palestras motivacionais inclusive recomendando que as pessoas tentem cortar laços com o passado e mesmo familiares. Ele próprio não vê sua família faz anos e está sem nenhuma vontade de ir ao casamento da irmã caçula. A crise econômica americana acaba sendo um bom negócio para a empresa em que Clooney trabalha, mas, ao voltar para uma reunião, ele é surpreendido pela nova proposta da empresa: demitir pela web.

A autora da idéia é uma novata, interpretada por Anna Kendrick. Fica claro que haverá demissões na empresa. Clooney prova por A+B que a moça não tem experiência nenhuma e que o projeto vai fracassar. Seu chefe o obriga a levá-la como estagiária, para aprender com ele técnicas de demissão. Começa a ficar evidente que a profissional jovem e promissora é uma mulherzinha que não tem nervos para agüentar o tranco. Aliás, o sonho dela é casar e ter filhos. Não que ela seja antifeminista – palavras da moça – mas ela não quer viver para a carreira.

Em uma de suas andanças, Clooney cruza com a personagem de Vera Farmiga. Não fica claro em que ela trabalha (*já é ótimo ver uma mulher trabalhando, isso é atigo cada vez mais raro*), mas ela viaja bastante, também, é tão narcisista quanto Clooney e parece tão “profissional” quanto. Eles iniciam um caso, no início é somente sexo (*ela pede para que ele não encuque e pense nela como "uma vagina"*), mas Clooney começa a se apaixonar. Seu contato com as duas mulheres – a novata e a amante, a pressão do casamento da irmã, o drama dos demitidos, tudo isso o faz repensar a sua vida.

Up in the Air não pinta as mulheres de forma muito positiva, embora a Vera Farmiga tenha dado um show, sua personagem "is a bitch" (*e não estou falando no sentido de ofensa sexual... quer dizer, ela se comporta como muitos homens na mesma situação, ivertendo os papéis em certo momento do filme*); a novata expõe as limitações de uma geração que faz uso, mas não valoriza as conquistas feministas (*ela paga por isso, vamos ver se aprendeu a lição*), as irmãs do Clooney tem momentos, mas não tem grande presença no filme. Ainda assim é um filme muito bom, que recomendo sem nenhum problema. Mas o filme é do George Clooney e ponto final. Clooney, que para mim até algum tempo atrás era somente um cara bonitão, mostrou grande competência em seus últimos filmes e faz um belo dueto com Vera Farmiga. Ele atua muito bem, passa todas as contradições da personagem, e, sim, agora eu sei porque ele foi indicado ao Oscar. Não vou escrever mais, porque os spoilers podem tirar a graça para alguns.

O filme poderia cair no clichê, poderia virar comédia romântica, mas está muito longe disso. É no máximo uma quase dramédia, com mais drama do que comédia. E com um foco nas relações humanas, sem perder de vista a crise econômica americana e seus efeitos. Filme simples, provavelmente barato, mas que merece toda a atenção. Eu não teria dado a minha, não fosse a resenha do Cabine Celular.Aliás, o prêmio de roteiro no Globo d eOuro foi mais que merecido. E eu nem sabia que era o terceiro filme do diretor. Se puder, não deixe de assistir. E não levem em conta o título infeliz, pois ele não tem nada a ver com o filme, aliás, ele vende muito mal o filme.

4 pessoas comentaram:

Eu não daria atenção a esse filme não fosse um detalhe: ele foi feito pela equipe do Obrigado por Fumar, uma das poucas coisas ótimas mesmo que saíram do cinema americano nos últimos dez anos. Fiz questão de ter o dvd em casa, inclusive. Então tenho confiança quanto a este. Mas devo assistir em dvd.

Apesar do nome radioativo em português.

Fiquei com o estômago embrulhado só de pensar que fazem um filme sobre esse tipo de gente. Sinto nojo só de imaginar uma pessoa que queira fazer você sentir que 15 anos da sua vida, 15 anos da sua juventude dadas a uma empresa qualquer para ser descartado como papel higiênico quando fica mais velho é uma coisa boa. É ótimo que ele tenha uma epifânia e mude, mas esse tipo de gente me enoja. Meus pais foram vítimas das privatizações no Brasil e eu sei bem como uma família pode ser destruída quando empresas precisam cortar pessoal. O pior de tudo é que pelo menos auqi no Brasil ngm respeita os seus direitos.

Ah, mas eles não glamourizam ess epessoal, não. É uma crítica a esse sistema todo. Pode ficar tranqüilo.


Mas contando o "causo" das demissões na empresa em que trabalhei, foi o seguinte: A empresa terceirizou o atendimento à estabelecimentos (*cartão não passa nem sempre por problema do cliente*), mas o processo foi feito às escuras. Um belo dia, chamaram todo o setor para um café da manhã fornecido pela empreca no Copacabana Palace (*eu fiz cursinho lá, uma vez*) e quando o pessoal chegou lá, recebeu a carta de demissão. Nada de café da manhã. Sobraram só as grávidas, porque era contra a lei demitir, e os bilingües, que foram trasnferidos para outros setores.

No final, todos os salários foram rebaixados mesmo. Foi nesse processo de reestruturação que eu saí. Pagaram todos os meus direitos, houve um acordo coletivo, mas quem entrou passou a ganhar mais ou menos 1/3 do que ganhávamos. Os animadinhos que eram a favor da empresa, começaram a se sentir traídos. E acho que a maioria saiu mesmo.

Isso, claro, porque o negócio de cartões de crédito estava em "crise". :)

Oh, nem tinha visto que vc fez essa critica, então chego atrasado.

A tradução do nome me deu ideia de uma comedia romantica daquelas convencionais, então nem dei atenção (até pq fui assistir Holmes de novo e tava esperando onde vivem os monstros), mas parece que é algo diferente.

Eu acho interessante esse tipo de mergulho nos bastidores corporativos, como os responsaveis fizeram o muito Obrigado por Fumar (como lembrou o Lancaster)e como tem o tio Clooney, acho que vale no minimo uma olhada.

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