terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Flower of Life: mangá que ensina a fazer mangá



Queria postar uma resenha dos dois volumes finais de Flower of Life (フラワー・オブ・ライフ) de Fumi Yoshinaga antes de sair de férias. Terminei de ler o mangá semana passada depois de deixá-lo um tempo na geladeira, mas precisava assentar umas idéias. Enfim, Yoshinaga de novo me surpreendeu, e eu entendo as reações ao último volume nas resenhas do Amazon. Mas vamos lá, um resuminho para quem não quiser ler a resenha dos volumes 1 e 2.

Flower of Life acompanha o dia-a-dia de três colegiais: Harutaro Hanazono, o protagonista, sobreviveu à leucemia e perdeu um ano de estudos, mas encara a vida sempre pelo lado positivo; Kai Majima é um otaku hardcore, egoísta e insensível; e Shota Mikuni é um garoto tímido, gordinho e inseguro. Os três têm uma coisa em comum, sua paixão pelo mangá. No segundo volume aparece uma quarta apaixonada por mangá, Sumiko Takeda, que cria shoujo mangá ao estilo anos 70. Majima a chantageia para que ela crie um mangá para o Comiket, só que ele deseja que seja um yaoi – porque é o que vende – mas a garota não consegue. fazer Enquanto isso, Mikuni e Harutaro se unem para criar seu próprio mangá e começam a imaginar se conseguirão atingir o sucesso.

Flower of Life é uma história “coming of age”, por assim dizer, fala de como um grupo de adolescentes, os três protagonistas e seus colegas, chegam à maturidade, superando desafios diversos e por vezes dolorosos, e alguns meninos sofrem mais do que outros, claro. O mangá fala de amizade, e a apresenta como superior a qualquer elo amoroso, tanto que os romances são secundários e ficam restritos normalmente aos personagens coadjuvantes. Parece ser essa uma das mensagens que a autora deseja passar: os amores passam, mas os verdadeiros amigos ficam.

Talvez o que inquiete no mangá, especialmente sendo uma série tão curta, é a falta de um roteiro coeso, ou melhor, de um direcionamento. Yoshinaga não se importa, por exemplo, de parar a história dos protagonistas para falar de alguma personagem coadjuvante menor, aquele colega que estuda na sua sala e você nem se dá conta. Só que ao fazer essa mudança de foco, ela termina por fechar o mangá sem nos dar respostas... Eu queria mais um volume pelo menos para amarrar algumas questões, especialmente referentes à Harutaro e Majima.

No fim do volume #4, Mikuni e Takeda estão muito bem resolvidos. O menino supera a timidez e ganha confiança, aprende a aceitar as criticas ao seu trabalho e mesmo não conseguindo ficar em primeiro lugar em um concurso de jovens talentos, acredita que pode se tornar um mangá-ka. Como falei, é um mangá que ensina a fazer mangá. No volume #4, inclusive aprendemos qual a função de um editor e como ele pode ser um agente positivo ou um destruidor. Yoshinaga ensina também que é preciso escrever sobre o que se conhece, especialmente quando se fala de pessoas. Mikuni cria uma personagem de 20 e poucos anos, uma moça misteriosa, que ele acha que é “a personagem”, só que ele não sabe o que é ter vinte anos, e, especialmente, o que é ser uma moça de vinte anos.

O editor que avalia novatos no Comiket detona o trabalho dele e elogia somente a arte do mangá que é de Harutaro. Ele se revolta e é Takeda, a garota que faz shoujo, que consegue explicar ao rapaz o que o editor viu de errado e que a persoangem que ele amava tanto, na verdade, carecia de consistência. Ele refaz o roteiro e submete novamente, e o editor, que também tinha repensado seus métodos truculentos, já que estava sendo superado por concorrentes que acabavam ficando com ótimos candidatos que ele destroçara, decide tratar melhor os meninos. Daí, Yoshinaga nos mostra como trabalha uma equipe de produção, editor, roteirista, e editor.

Já Takeda, no volume #3 consegue fazer amigas. É o mangá, que vira peça no colégio, que a aproxima de outras garotas já no volume #2. No #3, as garotas decidem se entrosar com ela e a chamam para sair. E ela não deixa de ser tímida, nem se torna consumista como as colegas, mas passa a interagir mais, se divertir mais. É interessante ver como ela sai do casulo. E, como eu falei, não se fala em romance, ou pelo menos Takeda está mais interessada em fazer mangá. Aliás, ela observa as colegas para conseguir material para compor suas personagens. Eu tenho grandes dúvidas se Takeda não é a própria Yoshinaga, uma personagem autobiográfica mesmo.

Agora falando de Majima, no volume #3 ele se envolve com a professora de japonês, Shigeru, aquela que parece um otokoyaku do Teatro Takarazuka. Shigeru, a professora, tinha um caso com um colega casado que tinha sido seu professor. Esse romance sem futuro parece só lhe causar sofrimento e Majima acaba aparecendo como uma tábua de salvação. E ela revive, de uma certa forma, a sua própria história. Já o rapaz, parece interessado nela porque ela é uma tsundere, ou ele assim a vê. Fora isso, a professora paga as contas, ou seja, ele come de graça e ainda faz sexo! É engraçadíssimo ver Majima saltitando pelo corredor e imaginando o jantar maravilhoso que ela vai pagar para ele em 25 de dezembro e que ele vai deixar de tomar café e almoçar para comer mais!

Enfim, só que o pobre Majima acaba se apaixonando de verdade, e Shigeru acaba voltando para o antigo amante no volume #4, pois ele finalmente se separou da esposa (*ou melhor, ela o chutou ao descobrir as trições*). E Majima que achava que estava no comando da situação percebe que ele é somente um adolescente, o elo mais fraco da corrente emocional, que é humano enfim, e pensa em fazer um Columbine na escola. Mas vejam bem, tudo é muito trágico e, ao mesmo tempo, tudo é muito cômico. Como Yoshinaga consegue eu não sei, mas ela consegue.

E chegamos ao protagonista de fato, Harutaro. É com ele que Yoshinaga é mais cruel e isso faz com que o mangá termine com um tom muito depressivo. E isso contradiz tudo o tom da série que, no geral, era divertida e para cima. A coisa é tão triste que quando descobri no volume #4 de aonde vinha o título da série eu quase chorei “E eles morreram na flor da idade”, em inglês “flower of life”. Enfim, Harutaro descobre no volume #4 que não está curado de verdade, que somente poderá ter certeza em cinco anos, pois há uma chance de 1/9 de que ele volte a desenvolver a doença.

Olha só, 10% de chance para mim é uma boa média. Aliás, quantas chances eu tenho de morrer? Só que por conta disso, o mundo do garoto desaba. A família toda entra em crise, pois estava escondendo dele. Ele começa a achar que não estará vivo no próximo ano para submeter um novo mangá para o concurso e não quer falar nada para Mikuni. É hiper-dramático, mas é comovente... Mas por que fazer isso logo no final? Por que não fazer um volume #5 com Harutaro curado de verdade? Deixar a vida dele em suspenso foi muito chato. E não acho que passou nenhuma lição de fato, entendem?

Mas já ficou longo, vamos terminar. Flower of Life não é o melhor mangá de Fumi Yoshinaga, Antique Bakery é superior e tem o mesmo número de volumes. Não é por isso que eu não vou dizer que é um bom mangá, que principalmente é um mangá que ensina a fazer mangá e de uma forma muito didática e divertida. Além disso, mostra como funciona o mercado de mangá japonês e a garimpagem de novos talentos.

Fora isso, é um mangá de momentos, alguns capítulso são magníficos, outros são simpáticos, nenhum é ruim. Não gostei do final de Majima e Harutaro, fiquei com muita raiva de Shigeru, adorei Mikuni e Takeda, fora o elenco de apoio excelente. Acho que Flower of Life poderia, sim, sair aqui no Brasil, mas só depois de Antique Bakery. E torço para que Yoshinaga um dia faça um volume #5 mostrando Harutaro curado, talvez fazendo mangá junto com Mikuni. Takeda como uma mangá-ka de sucesso. E Majima... Difícil imaginar o que Majima poderá ser. ^_^

3 pessoas comentaram:

Eu sou louco pra ler Flower of Life. Eu li uns trechos e achei muito interessante. Admito que sua resenha me deixou um tanto preocupado, detesto finais tristes (inconclusivos então...) mas por enquanto o mangá ainda está na minha lista de futuras aquisições. Metorneifã da Yoshinaga.

Bem, bem... Todo mundo termina vivo, eu garanto. :)

È sempre assim.... quando eu leio suas resenhas fico com vontade de ler o mangá, e sempre não me decepciono ^^.
Con certeza irei ler.Outro dela que queria muito ver tambem é Ooku.

Related Posts with Thumbnails