sábado, 23 de maio de 2009

Capítulo 4: Ventos de Mudança (Parte 9)


Postagem da semana, nona parte do capítulo 4. Estamos chegando ao final, o que indica que vocês – leitores e leitoras – ficarão algum tempo sem ler nada, pois nem comecei o capítulo 5. Para quem não leu a parte anterior, clique aqui. Quando terminar a postagem, reunirei tudo em um arquivo *.pdf, para facilitar a leitura. Os três primeiros capítulos já estão em *.pdf e podem ser acessados neste link. Começa aqui o primeiro confronto entre Richard e Alan. Nem preciso dizer que, independente do que aconteça neste capítulo, ninguém vai matar ninguém. Como já disse antes, se alguém quiser comentar, sugerir, criticar (*educadamente*), eu agradeço.

4º Capítulo: SEGUINDO O CAMINHO - Parte 9

— Abra em nome de Sua Majestade! — Gritou Denis empinando seu corcel pomposamente diante da grande porta do mosteiro. Na verdade, tal exibição não contava pontos a seu favor, pois ele não parecia galante, tinha porte atarracado e parecia muito pequeno sobre o imenso animal.

Nenhuma resposta.

— Não pretendo perder tempo aqui. — Falou Humberto sacando sua espada. — Eles não vão abrir, e nós temos soldados o suficiente para invadir este lugar e colocar tudo abaixo.

— Suas palavras não são sábias. — Interveio Filipe com sua voz aveludada. — Não me tome como covarde, Sir, mas este mosteiro tem relíquias poderosas... Meu pai me disse que da última vez que tentaram invadi-lo, todos foram fulminados pela ira divina. Meu pai é um homem corajoso, não mentiria sobre essas coisas.

— Eu não acredito em superstições! — Bafejou o outro e o rapaz simplesmente deu de ombros, torcendo para que Humberto fosse fulminado sozinho. — Homens, ponham essa porta abaixo.

— Não precisam fazer nada disso. — Falou uma voz poderosa. Era o abade. — Não são bem-vindos aqui. — Falou sem hesitação. — Homens belicosos e sanguinários não serão recebidos na Casa de Deus.

— E traidores? Conspiradores? — Começou Lucília. — Estes o Senhor recebe? — Fez pausa. — Pensei que seus votos o impedissem de ir contra o poder real.

— Há poderes muito mais altos do que o dos reis e rainhas deste mundo e todos os necessitados e perseguidos têm direito à santuário. Já vocês...

— Ha! Não vou discutir com esse velho. — Gritou Humberto. — Devolva minha esposa. Sei bem que ela está aí dentro, junto com dois homens, um deles deveria ter sido executado hoje.

— Não há ninguém no mosteiro além dos 30 monges e noviços. — Fez pausa. — Talvez haja algum feiticeiro ou feiticeira entre vocês que possa confirmar o que digo. — Lucília ergueu a cabeça. Tal dom ela não tinha e até aonde sabia, talvez nem sua avó tivesse tal talento.

— Não brinque conosco ou iremos enforcá-lo aqui mesmo. — Falou Denis. — Razões para isso, nós temos há muito. — Um brilho maligno passou pelos olhos do rapaz. — Afinal, nada melhor do que ir encontrar com a família. Seu pai e irmão devem estar esperando.

— Quando for a minha hora, certamente, mas não pelas mãos de alguém como você. — O abade fez uma mesura.

— Não vêem que enquanto discutimos com esse velho, eles nos escapam! — Lucília gritou. A incompetência a aborrecia profundamente.

Humberto também pensava o mesmo e fez um sinal de mão para que seus soldados invadissem o mosteiro. Já Denis, fez sinal para que os arqueiros atirassem. Neste momento, um vento frio, vento glacial começou a soprar e uma parede de gelo se materializou diante deles. Até mesmo o abade mostrou sua surpresa.

De dentro do muro recém constituído saiu uma mulher. No início sua silhueta se projetou como um baixo relevo até que ela se libertou, alta, rígida e foi ganhando cor. Seus cabelos eram louros atados em um penteado alto e sóbrio, deles descia um véu esvoaçante. Seu vestido tinha uma cor que estava entre o azul e o prateado, ajustando-se bem às suas formas. A pele, de tão branca, parecia nunca ter visto a luz do sol. Já seu rosto era sério com olhos de um azul límpido, um nariz grego, mas não muito projetado, e uma boca pequena, de lábios finos e rosados. Não parecia ser tão jovem, mas com certeza era bela e seu porte e gestual a revestiam de uma natural autoridade. Quando falou, sua voz parecia distante, superior e fria.

— Ouviram o abade, seu lugar não é aqui.

— Arqueiros. — A ordem foi inútil, pois as flechas congelaram no ar e se estilhaçaram.

— Sou Palma, fada da água e do gelo. Minha Rainha ordena que retornem daqui. Não permitirei que obstruam nossos planos. — Fez pausa. — Vocês não irão passar daqui. Podem voltar por bem, ou podem arcar com as conseqüências.

— Quem é você...

— Não tente, menina! — Ela falou sem olhar para Lucília. — Sei que tem poderes, mas não sabe como usá-los. Aprenda primeiro, antes de tentar me enfrentar, ou a qualquer um. — Lucília perdeu a voz. — E saibam que estou sendo bondosa, impedindo que fizessem uma grande tolice. Saibam que se o abade trouxesse as relíquias certamente seriam fulminados.

— Avancem! Coloquem esta parede abaixo! — Denis ordenou, mas quando seus soldados tentaram avançar perceberam que o chão estava escorregadio, congelado. — Idiotas! Eu mesmo mostrarei como se faz. — Desceu do cavalo e sacou a espada, só que quando tentou atacar, percebeu que suas mãos estavam congeladas e começou a gemer.

Humberto de Dorsos, que antes estava disposto a invadir o mosteiro, parecia petrificado. Sua mão direita presa à cicatriz que deformava seu rosto. Nos olhos uma expressão que misturava de surpresa e horror. Quando os seus olhos encontraram os de Palma, o olhar da mulher se tornou tão duro que ele desviou os seus olhos automaticamente. “Eles se conhecem...” Pensou Lucília. A pendenga diante do mosteiro não durou muito, pois Palma era uma fada muito poderosa e não havia ninguém ali que pudesse rivalizar com ela.

— Vamos recuar! — Lucília propôs. — Precisamos voltar até a vila e cuidar dos feridos.

— Eu não vou recuar com as tropas. — Denis pensava na raiva da Rainha.
— Denis, não seja tolo, teremos outra chance mais tarde. — Falou Filipe tentando apaziguar seu amigo. — Não quero que suas mãos tenham que ser amputadas! — Ele falou com real preocupação. Só que foi Humberto quem deu a última palavra:

— Um dia se ganha, um dia se perde. — Falou Humberto, ainda com a mão na cicatriz. — E esse dia parece não ser nosso.
XXX
— Sua presença nos poupou uma série de preocupações. — Falou o abade depois que os inimigos se retiraram.

— A Fada Ádina sabia que precisariam de nosso apoio. Só não imaginava que o Senhor já teria providenciado a fuga. — Fez pausa. — Minha intenção era abrir um portal que nos levasse direto ao Castelo do Amanhecer. — Isso só era possível porque a floresta ao redor do mosteiro concentrava muitas forças mágicas. Tal magia tinha ajudado a potencializar os poderes de Palma, o que facilitava o seu trabalho.

— Mas eles devem estar por perto.

— Imagino que estejam

— Eu os mandei para a antiga passagem.

— Eu não a conheço, mas acredito na sua competência. Além disso, há outra fada que foi enviada para ajudá-los, em caso de necessidade. — Fez pausa. — Mas eu preciso retornar. Não foi tarefa fácil fazer com o que fiz hoje.

— Suponho que não. — Disse o abade. — Mas e a princesa? Ela já está a salvo.

— Garantir a sua segurança será minha missão agora. — E ela desapareceu, tornando-se vapor d’água.
XXX
— É melhor descer esta coisa. — Falou Alan. — Não acredito que consigamos entrar no castelo com esse seu barco voador.

— Pode ser. — Falou Haroldo um pouco ansioso. — Mas eu não vejo nada... Nenhum castelo... Mas as coordenadas são essas. Não erramos o caminho... Ou erramos?

— Não erramos, não. — Disse Elaine se levantando. — Eu posso vê-lo daqui. Está bem ali em frente.

Ela apontava com olhos fixos no vazio. Ou, pelo menos, era o vazio que os outros viam. Marina sentiu um arrepio e Haroldo preocupar com a saúde de Elaine.

— Se você diz que vê, Elaine, — Começou Haroldo. — eu acredito em você. — Ele segurou firme o leme. — Mas, por favor, se sente-se e aperte o cinto. Vamos descer e você pode cair. O sol deve nascer em alguns minutos. Acredito que se perdermos a hora, só entraremos amanhã.

Desceram, bem em frente a uma cachoeira muito alta, com água cristalina. Os quatro saíram da nave e ficaram observando. Alan estava em guarda, Marina atenta ao seu colar que brilhava, Haroldo prestava atenção na agitação de Elaine que parecia estar em algum tipo de transe com os olhos fixos na cachoeira.

— A cachoeira vai se abrir e vamos poder entrar. — Elaine começou. — Vê como o seu colar está brilhando, Marina? É um sinal da Fada Ádina.

— Como sabe, Elaine? — Perguntou Marina, segurando o colar que nos últimos dias se tornara tão ativo.

— Eu somente sei... — Elaine balançou a cabeça.

— Você fala com tanta segurança que parece...

— Há alguém nos observando. — Falou Elaine olhando em volta com uma expressão estranha. — Não percebem?

— Pode ser alguma das fadas. — Falou Marina. — Parece que esta Fada Ádina gosta de nos pregar peças.

— Não, não é nenhuma fada. — Falou Elaine. — Não me perguntem como eu sei... Eu tenho sentido coisas estranhas... — Haroldo segurou a mão de Elaine.

— Tudo bem... — Falou baixo. — Acredito que tudo vá se explicar em breve. — Na verdade, não tinha certeza de nada, mas também não tinha outra coisa para dizer.

— Quem está aí? — Alan gritou. — Apareça! — Uma árvore tombou de repente e teria caído sobre ele, se não pulasse rápido para o lado.

— Bravo, De Brier! — Uma voz poderosa e carregada de sarcasmo ressoou. — Vejo que seus reflexos são bons. Talvez seja divertido duelar com você?

— Sir Richard... — Marina falou com um fiapo de voz. Depois se voltando para Alan disse com voz trêmula: — Nem pense em cruzar espadas com ele, Alan, ou será um homem morto...

— Não acho que ele poderá evitar... — Falou Haroldo dando um passo atrás.

— Serei um morto feliz se o matar. — disse o rapaz entre dentes, já com a espada desembainhada. — Pode vir.

— Quanta bravata... — Disse Richard saindo imponente das sombras. Seus olhos frios miravam a presa. — Mas não pense que tenho tempo, para brincar com você. O dia já vai raiar e não me agrada o primeiro sol da manhã.

0 pessoas comentaram:

Related Posts with Thumbnails