domingo, 8 de março de 2009

NO DIA 8 DE MARÇO, DISPENSE A ROSA!



Vários sites e blogs feministas estão com esta mesma imagem e eu decidi trazer para cá. Hoje é o Dia Internacional da Mulher, melhor seria dizer das Mulheres, porque não somos uma só, somos várias em nossa diversidade de origem étnica ou social, de consciência crítica, de assujeitamento ao patriarcado. Já houve quem dissesse que a origem do dia internacional foi fraude, pois nenhum patrão tocaria fogo em sua própria fábrica para matar umas mulherezinhas pedindo melhores salários (ganhavam 1/3 do salário dos homens) e jornada de 10 horas (trabalhavam 16 horas em média).

Pode até ser que aquela fábrica lá em Nova York em 1857 não tenha sido incendiada, que tenham misturado histórias de outras repressões e outros incêndios, mas mulheres são mortas todos os dias, humilhadas, estupradas, ignoradas pelas autoridades. Eloás aos montes, só para citar o caso amplamente divulgado pela mídia, são mortas por ex-namorados, ex-maridos, maridos e companheiros. Meninas como a de Pernambuco, estado com os maiores índices de violência contra as mulheres neste país (*se mudou, ainda não vi os dados*), são ignoradas pelo arcebispo que rotula de inocentes somente os dois fetos. Nasceu mulher, não é inocente, é pecadora. Nasceu mulher pode parir aos 9 anos porque está aí para isso. Se Deus permitiu que engravidasse... Nojento demais. Como mulher, feminista e cristã é difícil ler essas coisas, ouvir essas coisas e fazer carinha de paisagem. Depois ainda ouvir uns babacas falando que as mulheres têm tudo e os homens, coitadinhos, sofrem tanto!

Não é dia de festa não, é dia de lembrar que nós mulheres precisamos de um dia, porque todos os dias são dias dos homens (heterossexuais, que se vêem como brancos, cristãos de preferência católicos) e os índices de violência contra as mulheres e de desigualdade de ganhos salariais mostram que continuamos um degrau abaixo. Se somos além de mulheres, negras, mais deraus abaixo ainda. Se moramos em um país que mantém uma legislação arcaica ou norteada por princípios religiosos, a situação consegue se tornar mais dramática. Para quem não se lembra de um caso de mulheres incendiadas nos dias e hoje, eu sempre cito que em março de 2002, meninas morreram em um incêndio em uma escola da Arábia Saudita porque, querendo salvar suas vidas, esqueceram suas abayas e véus. Os "loucos" da polícia religiosa acharam por bem fazê-las queimar, aliás, morrer queimadas para não queimarem no inferno ou fazê-los queimar por sua luxúria.

Enfim, para agregar ainda mais amargor a uma semana na qual ficou patente o desrespeito em relação às mulheres, sejam elas meninas de nove anos estupradas desde os seis ou mulheres adultas mortas pelos companheiros (*soa irônico o uso desta palavra*), ainda abro o Jornal O Dia do Rio e encontro a matéria backlash básica sobre a volta ao lar (1 - 2). Nada melhor do que ser mãe em tempo integral e dona de casa. Daí, entrevistam um monte de dondocas – esposa do prefeito do Rio, Luma de Oliveira – e falam que muitas mulheres preferem ficar em casa. Todas devem ter empregadas domésticas e babás, mas estas mulheres não têm escolha e são invisíveis.

Para dar autoridade, pegam uma professora especializada em História do Feminismo (*sempre no singular, como mulher*) para dizer que o feminismo está light e compreensivo. Ser dona de casa, como diria o Prefeito Viriatato de Desejo Proibido, “É bom também!”. Entrevistaram alguma mulher pobre? Explicaram que muitas das 54% de mulheres fora do mercado de trabalho são subempregadas, fazem bicos para complementar a renda. Mas para que estragar a matéria festiva? Ah, lugar de mulher é dentro de casa!

Bem, não estou inspirada hoje, não consigo carregar o podcast, meu computador de mesa deu pau, já recebi meu bombom na Igreja porque sou uma boa mulher e já li um monte de bobagens hoje e lerei mais. Sugiro visitas à blogs de feministas que estão falando muito mais e melhor do que eu neste 8 de março: Síndrome de Estocolmo, Acordei que Sonhava, Escreva Lola Escreva, Combatendo o Machismo Pixel por Pixel, Bia and Friends, Marjorie Rodrigues. Ah, não publicarei comentários que sejam ofensivos e ou cretinos. Como o blog meu, não dou espaço de fala para machistas alucinados. Não publico e não respondo. Vão caçar os seus clubinhos e publicar por lá.

9 pessoas comentaram:

Eu não sou a favor de um dia para a mulher, ou do negro (em São Paulo, o dia de Zumbi),não porque não mereçam, apenas acho errado que seja necessário escolher 1 dia entre 365 para se comemorar.
Digo isso pelo fato de fazer parte de uma minoria que nem sequer tem direito a 1 dia no ano. Lendo seu post me lembrei de uma cena de True Blood que resume tudo:
"Ouvir essas pessoas (falando do cara da Irmandade do Sol) me faz ter vergonha de me chamar de Humana".
Eu gosto muito da época em que vivo, pois mesmo com todo o preconceito, ainda estamos muito melhor do que 20 anos atrás, mas eu realmente espero estar vivo em uma época que não seja necessário escolher 1 dia para celebrarmos ser o que somos, e sim poder celebrar todos os dias.

É isto aí!!! E já perceberam que as mensagens que mandam para a gente nestes dias sempre mostram aquilo que os homens querem ver? Mulheres emotivas, sensíveis, abnegadas, boazinhas. Todo dia da Mulher eu acordo de mal humor. Aliás, eu dispensei a rosa outro dia, e nem sabia da campanha! :-)

Acho válido pq pelo menos uma vez por ano as pessoas se tocam para certas coisas. Só acredito que deveria haver um dia do ser humano também. As mulheres sofrem violência mas não são só as mulheres, se você nasceu se prepare para sofrer algum tipo de violência, seja por ser gordo, gay, alto, baixo, branco ou preto. Todo mundo acaba sofrendo preconceito e discriminação por alguma coisa, talvez até por ser perfeito demais.

Apesar de ser uma data estritamente comercial é bom que as pessoas se lembrem, é melhor que o amargor do ostracismo.

Pelo menos os médicos agiram corretamente e fizeram o aborto na menina, sinceramente quem deveria ser excomungado eram esses Padrecos que foram contra o aborto. Será que é melhor morrerem 3 ou ficarem 3 pessoas com seqüelas? Acredito que não. E ainda esses bebês correriam o risco de nascer com seqüelas por nascerem desse relacionamento incestuoso.

Notei que sempre que é dia das Mulheres ou dia das mães fazem uma matéria do tipo "Elas preferem ficar em casa, com os filhos". Aí aparece um monte de socialyte (ñ sei se escrevi certo)dizendo que preferem assim. Ou falam dos "Donos-de-casa" que recebem mais de 2000 reais como pagamento por ajudar a esposa. Minha mãe é dona-de-casa, meu pai chora para dar 1 real, grita com ela quase todos os dias. Quero ver quando vão pegar uma mulher como ela para entrevistar. Que escolheu ficar em casa, sem ajuda para fazer as coisas (a ñ ser eu e minha irmã), que tem q ficar fazendo coisas de responsabilidade do meu pai.

Lembro de uma aula no pré-vestibular em que o imbecil do professor de Química (ele devia levar uma coça) ficou dizendo que a população mundial está acima do peso pq as mulheres ñ cozinham mais, forçando a família a comer coisas semi-prontas ou fast-food. Que mulher realmente inteligente era a que entrasse numa faculdade fácil e casasse com cara rico. Que mulher era burra por trabalhar fora. mas, ao que parece, eu era a única garota da sala indignada com tal coisa. As outras só riram, dizendo que era para o professor torcer para que elas conseguirem alguem assim. Um amigo que tava do meu lado perguntou pq eu tava de cara fechada (tava mais preocupado em jogar no celular, entao ñ escutou nada), até ele concordou com minha indignação. E as meninas rindo para o professor. É de pensar que um professor tivesse mais consciencia antes de vomitar besteira. Ñ foi no dia das mulheres, acho que foi mais para setembro que ele disse isso. Tinha passado no Fantástico uma matéria sobre os homens que deixavam de trabalhar para ficar em casa.

Esses caras tinham empregadas e babás para ajudá-los além de mesada, que já citei. Meu pai só pagou empregada para minha mãe como uma forma de ajudar uma tia materna, que estava recém separada e desempregada. E foi só por uma faxina. Ah. Tbm tem a parte de que meu pai se acha muito mais inteligente q nós (sabe aquele cara que acredita, confia e torce pelos amigos e o resto que se lasque? É ele, seja por machismo, seja por narcisismo).

Não. A data não é comercial, não surgiu comercial. So se tornarádata comercial se deixarmos de falar da sua função, do motivo da sua criação e que esvaziem o seu teor político.

"Muitas delas, porém, já foram profissionais bem-sucedidas que desistiram de suas carreiras para se dedicar ao lar"

Deviam botar tbm que muitas são demitidas EXATAMENTE por terem se casado ou tido filhos.

Valéria eu digo comercial pq querendo ou não é uma data que aquece o comércio com venda de flores e presentes como roupas, maquiagem e até eletrodomésticos =x, as pessoas estão mais preocupadas em dar e receber presentinhos e flores que se preocupar com questões verdadeiras, mas como ela lembra da situação das mulheres é válida.

P.s. Dar eletrodoméstico de presente de dia das mulheres pra mim é uma canalhice :x
*já vi um tio meu pãi-duro fazendo isso*

Bem, como homem como cristão e acima de tudo como ser humano eu compartilho a repugnancia que vc sente que vc e milhões de outros
sentiram ao ver aquele suposto homem de Deus assassinando todos os principios cristões ao surgir p/ condenar, ao inves de oferecer apoio e comprenssão, a vitima de algo tão brutal e nojento, bem como seus familiares e os profisisonais que a atenderam.

Mas é claro, o agressor foi polpado, afinal o crime dele nem é tão grave assim...

Isso me deixa completamente atordoado...como alguem posso ser indeferente ao sofreimento daquela menina, e por tabela da sua familia???

E nós queremos ter moral de chamar os mulçumanos de fanaticos???

Na verdade estamos é muito proximo do que eles mesmo praticam, e só não se tornou pior pq a muitas pessoas lutando contra isso.

Meu apoio a sua revolta e ao sem numero de mulhers que lutam a cada dia por um sociedade verdadeiramente justa.

Uma sociedade que seja melhor p/todos nós.

Minha mãe morreu aos 47 anos de idade de uma doença que poderia ter sido tratada se diagnosticada no início. Mas, ela veio de um lugar onde se ensinava que o seu destino seria se casar, ter filhos e viver para sua casa e sua família. Ela se casou, teve os filhos, um marido que aparecia uma vez por mês com uma mala cheia de roupas sujas e a impedia de trabalhar fora. Viveu assim por vinte anos, sozinha, longe da família, com três filhos na barra da saia, sem vaidade, sem auto-estima, sem um lugar no mundo que fosse maior que o espaço entre o fogão e o tanque de casa.
Eu nunca vou aceitar esta sina, eu quero fazer tudo, quero ter escolhas. Quero me sentir feliz e completa, o que um padre, a igreja ou a Bíblia disserem jamais terá poder para me impedir de exercer o direito de fazer minhas próprias escolhas. E se um dia eu tiver que parir, que minhas crias lembrem de mim pelo que eu fui, pelo que eu fiz. A minha existência como mulher não pode ser resumida a uma mera rosa estúpida.

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