A Defesa

Ontem eu estava muito cansada para postar, mas vamos lá, saiu tudo bem na Defesa da minha tese de doutorado. Meu marido tirou poucas fotos, a única que ficou mais ou menos, com toda a banca e eu no canto, foi esta. Mas filmamos tudo. Na verdade, a preocupação foi a filmadora e esquecemos de carregar a máquinha. O título da minha tese foi A Construção da Verdadeira Religiosa no Século XIII: o Caso de Clara de Assis. Trabalho com Idade Média dentro da perpectiva dos estudos de gênero e da epistemologia feminista. Posso explicar por e-mail se alguém quiser saber, logo que eu faça as correções, a tese deve estar on line na página da UnB. Aqui temos essa chance de fazer a revisão antes da encadernação final, na UFRJ ia do jeito que a banca aprovasse.

A professora que está ao meu lado é minha orientadora Prof.ª Dr.ª Tânia Navarro Swain, que me aturou e orientou durante esse tempo todo. A tese é dela, também, pois sem sua experiência não conseguiria fazer metade das reflexões que fiz. A de blusa branca é a Prof.ª Dr.ª Andréia Cristina Lopes Frazão da Silva do Programa de Estudos Medievais do IFCS-UFRJ. Foi minha primeira orientadora na graduação e no mestrado e responsável pela minha primeira formação. Fico feliz em poder chamar ambas as minhas orientadoras de amigas. A do centro é a Prof.ª Dr.ª Diva do Couto Gontijo Muniz que é uma das fundadoras da área de Estudos Fministas e de Gênero e foi minha professora na UnB. Foi ela quem mais destroçou a minha tese, era o que eu esperava. :) Aliás, ela foi uma das melhores professoras que tive na minha formação e enfiar o dedo na ferida é a sua função. As outras duas professora da banca são a Prof.ª Dr.ª Joelma Rodrigues da Silva, do CEUB, e a Prof.ª Dr.ª Maria Eurydice de Barros Ribeiro que é da UnB, medievalista, e se divide entre a História e a Pós de Artes.

Não é fácil fazer doutorado, escrever uma tese, ainda mais trabalhando ao longo de todo o processo. Deveria ter terminado ano passado, ultrapassei meu prazo que era de 5 anos. Tive somente três meses de licença durante esses anos todos e muitos percalços, problemas pessoais, problemas no trabalho, problemas com a burocracia da UnB que não me deu o trancamento que eu precisava, porque eu já tinha estourado o prazo do mestrado. Vejam o erro, eu fazia doutorado e estava dentro do prazo, pelo menos naquele momento. Fiquei seis meses caçando o processo para receber esta resposta.

Enfim, eu fui a primeira pessoa da minha família a passar para uma universidade pública, a primeira a fazer mestrado e a primeira a fazer doutorado. Sempre trabalhando. Tenho, sim, orgulho disso. A Universidade Pública não é somente para os ricos, muito longe disso e tenho amigos que tiveram ainda maiores dificuldades e estão no mesmo ponto que eu, ou além ainda. E é universidade pública, para todos, e não "de graça" como muita gente gosta de falar. Não foram de graça as passagens de ônibus, os livros, a alimentação, tudo saiu do bolso dos meus pais e do meu próprio depois, também não é de graça a estrutura da universidade é tudo pago com nossos impostos. Você paga a universidade pública, e você tem o direito de estar lá. Cada menino ou menina pobre que desiste de tentar, abre espaço para que algum "nascido em berço esplêndido" com menos competência ocupe uma vaga nas boas universidades deste país.

Sei que não sou a melhor, mas estou construindo minha vida para que sirva de inspiração apra outros. Nenhum dos meus avós paternos ou maternos passou da 4ª série primária. Foram bóias frias, trabalharam em fábrica, lavoura e estiva, migraram de Sergipe para o Rio. Minha avó ficou viúva aos 26 anos com 4 crianças pequenas, a mais velha com 5 anos de idade, minha mãe, e grávida do quinto filho. Nenhum deles se perdeu e este é seu maior orgulho. Meu pai fez até a 5ª série e é mecânico de automóveis. Sempre disse que não gostava de estudar, mas sempre nos estimulou a fazê-lo. Minha mãe foi até a faculdade, fez Teologia, trabalhou a vida inteira como professora. Essas três pessoas são os exemplos de trabalho e dedicação que tenho. Deles me orgulho muito e se não me entenderam sempre, pois para eles bastava primeiro o 2º grau, depois a faculdade (*Para que mais?*), me incentivaram nos momentos que precisei.

É isso, desculpem o longo post. Eu não digeri ainda a coisa toda. Não sei se devo me sentir diferente ou se tudo está a mesma coisa. Só sei que vou em frente, para aonde, não sei ainda. Do meu tempo de Colégio Bandeirantes, minha escola até a 8ª série, lá em São João de Meriti, guardo a fala de uma amiga que não gostava do meu empenho nos estudos "Você acha que vai a algum lugar com este ensino que você tem aqui?". Bem, estou indo, aproveitei o pouco de lá, os bons e maus exemplos, e, principalmente, olhei para meu pai e minha mãe. Do meu pai guardo uma frase importante "Não eduquei vocês para que fossem vítimas. Só é vítima quem não tem condição de lutar." Bem, não sei se sou vencedora, mas vítima eu não sou. Outra coisa que ele sempre me disse é que você é o seu trabalho. Não pense que minha mãe não me disse nada, pois seu exemplo e apoio é muito mais forte do que qualquer palavra que pudesse dizer.

Agradeço a todos que me apoiaram, que incentivaram e que oraram por mim. Sei que foram muitas pessoas. Agradeço até aos que me atrapalharam, deliberadamente ou por acidente, não teria terminado essa tarefa sem todos vocês.