terça-feira, 28 de fevereiro de 2006

Mad about manga


Um jornal americano publicou uma longa matéria sobre o apelo que o shoujo mangá tem para as meninas e mulheres. Como a matéria ficou realmente boa, caindo em poucos clichês, acabei tentada a traduzir. Aprendi expressões novas, desenferrujei um pouquinho minhas capacidades como tradutora e adaptadora. Enfim, quem qusier ler em inglês é só clicar no link, mas acho que a versão em português está legalzinha. Adoraria ouvir os comentários e reflexões, afinal, a gente aqui sabe bem o quanto o shoujo mangá é desqualificado.
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Mad about manga

Graphic novels e quadrinhos, traduzidos do japonês, são um grande hit entre as garotas americanas

Por Elizabeth Large
Sun Reporter
Originalmente publicado em 26 de fevereiro, 2006

Mês passado, quando a filha adolescente do programa “The Book of Daniel” da NBC revela-se uma talentosa desenhista de mangá que vende drogas para pagar seu software, adultos devem ter dito, “Huh?”. Mas suas filhas adolescentes provavelmente sabiam o que é mangá.

Estes quadrinhos em preto e branco, traduzidos de best-sellers japoneses e que devem ser lidos de trás para frente e da direita para a esquerda, são um grande hit entre as adolescentes e pré-adolescentes americanas. Elas podem encontrar os mangás (pronunciado mahn-ga, com um G forte como em “girl”) in revistas adolescentes populares como a Cosmo Girl ou elas esperam impacientemente que o próximo livro de uma série seja traduzido e colocado nas prateleiras da Barnes & Noble ou Waldenbooks mais próxima de casa.

Uma vez que as editoras convenceram as cadeias de livrarias a vender seus mangás (em oposição às comic shops), a garotas passaram a encontrá-los facilmente – nas lojas de departamentos, onde elas já estavam de qualquer forma.

Cori Kasura, uma estudante de 13 anos do colégio Glenwood que descreve a si mesma como “uma grande fã”, descobriu seu primeiro mangá dois anos atrás em uma biblioteca pública.

“Muitas pessoas se afastam dos mangás como se fossem somente quadrinhos, mas eles não deveriam,” ela diz. “Mangás lidam com problemas do mundo real, e eu chão que eu gosto disso de verdade. Claro que alguns deles têm um toque de mágica.”

Os enredos dos mangás escritos especificamente para garotas, chamados shoujo, vêm em dois sub-gêneros (*Aqui a redução imperdoável*): histórias de garotas mágicas, com heroínas com olhos ao estilo Bambi (*da Disney*) com super poderes capazes de salvar o mundo, e alguns com histórias mais realistas sobre amores não correspondidos, relacionamentos e as inseguranças e angústias típicas das colegiais.

Mas chamá-los de realistas da mesma forma, quero dizer, que uma novela de Judy Blume é realista, seria um uso muito extensivo do termo. Uma das séries favoritas de Cori é W Juliet, um best-seller publicado pela Viz, sobre uma tomboy que se torna amiga de uma linda recém chegada na sua escola – somente para descobrir que a garota é um garoto disfarçado (para provar ao próprio pai que tem talento para se tornar um ator). Romance floresce e as complicações se sucedem, e a trama demora 14 volumes para se resolver.

Custando 10 dólars, isso significa muito dinheiro do trabalho como babysitter.

Claro, que jovens fãs podem sempre se virar com a biblioteca. A Biblioteca Pública Municipal de Baltimore tem aumentado a sua coleção e agora possui mais de 2800 volumes nos mais diversos ramos do mangá, 330 diferentes títulos no total.

“É definitivamente nossa coleção com maior rotatividade,” dia Jeff Doane, um bibliotecário na seção de jovens adultos em Towson. “O sistema como um todo está subitamente compreendendo que os mangás não são uma maravilha em um volume. Estes livros são lidos aos pedaços. O que é muito legal.”

Ao contrário dos leitores dos comics e graphic novels americanos, entre os fãs de mangá as garotas provavelmente estão em maior número que os rapazes. Provavelmente, 60% do público é feminino, estima o ICV2, a publicação on line que rastreia as tendências e o potencial comercial de produtos da cultura pop. A faixa demográfica da Tokyopop para seus títulos shoujo oscila entre as garotas de 13 e 17 anos, diz Julie Taylor, diretora da divisão de shoujo mangá da editora, uma companhia americana.

É difícil conseguir números preciso sobre a popularidade dos mangás porque os adolescentes lêem e passam os títulos adiante. Mas as vendas nos EUA mais do que dobraram em relação aos 55 milhões de 2002, de acordo com o ICV2. USA Today informou que em 2005 a sua lista dos livros mais vendidos incluía um número de títulos de graphic novels, mas do que o triplo do número se comparado com o ano anterior, e os mais populares eram os mangás. Harlequin Books começou a publicar alguns dos seus romances em forma de mangá.

'Girls love manga'

As pessoas pensam que as fãs devem ser góticas ou tipos marginais, mas isto não é verdade, diz Karen Bokram, editora da revista Girl’s Life em Towson. “Todo tipo de garota gosta de mangá.”

“Nós primeiro começamos a ouvir falar de mangá através de nossas leitoras,” Bokram diz. “Elas nos mandavam desenhos. Elas refaziam nossas capas [em estilo mangá], desenhando garotas com olhos imensos e um ar meio desastrado.”

Estilo mangá é facilmente reconhecível. As garotas são engraçadinhas como filhotes, com imensos olhos cintilantes e longas pernas. Os rapazes são andróginos, com cabelos longos e espetados. Se você ainda não viu esse tipo de quadrinho, você provavelmente conhece o estilo por causa dos animes (animação japonesa) da Cartoon Network ou dos cinemas com filmes como Spirited Away (A Viagem de Chihiro), que ganhou o Oscar de 2002 de melhor longa de animação.

Os volumes são do tamanho e formato de um livro de bolso, com capas cheias de cores. Sendo lido contrário, a capa é na parte de trás, se você abrir da forma errada você pode receber o aviso: “Pare! Este é a parte de trás do livro.” Mangás tendem a ter títulos intrigantes, quando não diretamente bizarros, como Boys Over Flowers (*Hana Yori Dango*) e Sugar Sugar Rune.

Os quadros são dispostos de forma criativa, algumas vezes se sobrepondo e raramente envolvendo as suas personagens. As seqüências de ação têm mais linhas para indicar o movimento do que os quadrinhos americanos.

“É muito dinâmico,” diz Dallas Middaugh da Del Rey Manga, que lançou seus primeiros livros em 2004. Ele acha que os roteiros e a arte dos mangás dá maior espaço para a interpretação, tendo mais apelo junto aos adolescentes. “Há uma sensação de drama e seriedade. E você raramente encontra algum cinismo,” ele acrescente, comparando os mangás com as graphic novels americanas. “O mangá se leva a sério, mas não a sério demais.”

Shoujo mangá oferece às meninas que gostam de quadrinhos uma alternativa aos super-heróis americanos e suas mulheres peitudas. No novo volume da Del Rey de The Wallflower (*Yamato Nadeshiko Shichi Henge*), por exemplo, quatro lindos rapazes têm que concordar em tranformar Sunako, uma “solitária dark”, em uma adorável dama se quiserem morar de graça na pensão da tia da garota.

“No fim das contas toda essa coisa de super-heróis tende a ser muito previsível,” diz Kelsie Cooper, 17 anos, do último ano da Escola Rural Roland Park e fundadora do clube de mangá e anime do colégio. “Tudo gira em torno de suas armas e uniformes. Mangá se centra mais na personagem. Muitos adolescentes curtem The O.C. e One Tree Hill [séries de TV]. Muitas histórias shoujo são parecidas, só que mais realistas.”

“Algumas vezes você se sente meio ‘menininha’,” acrescente sua amiga Allie Simmons, 17, sobre o apelo do shoujo. “Tudo gira em torno de sentimentos, e é muito fácil de ler. É como quando algumas vezes você quer ficar em casa tomando sorvete e assistindo filmes água com açúcar.”

Tem Apelo Visual

Uma grande parte do apelo dos mangás, obviamente, é sua leitura fácil combinada com a arte.

“Alguns mangás são idiotas, mas o apelo visua está lá,” diz Jody Sharp, que trabalha na Biblioteca Pública Municipal de Baltimore e é membro do Comitê de Grandes Graphic Novels para Adolescentes do Serviço de Jovens Adultos da Biblioteca, uma divisão da Associação de Bibliotecas Americanas. “Isto é um grande apelo. Nós vivemos em uma cultura visual. É uma forma natural de se utilizar disso junto com o material de leitura.”

“Tudo [no mangá] é muito visual, num ritimo acelerado,” concorda Taylor da Tokyopop. “Eu ouvi de alguém que é como um filme que você pode segurar com as mãos.”

Além do apelo visual, quase tudo que é japonês tem se tornado cool para essa geração. Eles cresceram com Pokemon, Yu-Gi-Oh e Hello Kitty, e comem sushi quase com a mesma freqüência que pizza. Ler da direita para a esquerda é legal. Mangá é legal, e é algo que seus pais desconhecem ou não vêem como algo que tenha algo demais.

“É alguma coisa que pertence aos garotos e garotas, alguma coisa que da qual eles podem falar aos seus pais,” diz Evelyn Dubocq, diretor de relações públicas da VIZ, que pertence aos japoneses e uma das maiores editoras de mangá dos EUA junto com a Tokyopop. No verão passado a Viz lançou a Shoujo Beat, uma revista mensal direcionada às adolescentes americanas.

Mangá tem sido popular nos EUA desde os anos 90, mas não no seu formato atual. A Tokyopop, diz Taylor, foi a primeira companhia a publicar um volume lido da direita para a esquerda que é como são lidos os quadrinhos japoneses. Foi em 2002, e depois disso, ela diz, “O mangá realmente decolou.”

Os fãs gostaram da autenticidade, e as editoras rapidamente perceberam que os leitores não queriam suas histórias e personagens americanizadas. Eles gostam do uso dos honoríficos, por exemplo, e das onomatopéias em japonês, que são diferentes das usadas nos quadrinhos americanos. Eles gostam das explicações sobre cultura japonesa que muitos volumes incluem agora.

Atualmente, o títulos shoujo mais vendido, de acordo com a ICV2, é Fruits Basket Tokyopop, sobre uma adolescente órfã que é acolhida por uma família na qual os membros se transformam em animais do Horóscopo Chinês quando abraçados por alguém do sexo oposto. Ele tem 17 volumes (*até o momento nos EUA*), e atrai todo mundo desde pré-adolescentes até mulheres como Jessica Shaw, que tem 27 anos e estuda enfermagem no Community College of Baltimore County em Catonsville. Ela tem uma coleção de mais de 200 volumes de mangá.

“É um vício,” ela diz. “Eles terminam com tamanho suspense que você é obrigada a comprar o próximo volume. Normalmente eu compro shoujo, mas algumas vezes eu pego títulos para garotos. Se tiver uma boa história, eu leio.”

Nem todos os shoujo mangás são tão inocentes quanto Fruits Basket. Alguns títulos traduzidos de best-sellers japoneses são direcionados a leitores mais adultos. (As editoras classificam seus títulos; se os pais prestam atenção nisso já é outra história.) Sensual Phrase (*Kaikan Phrase*) da Viz, por exemplo, é sobre uma colegial que escreve letras de músicas e se apaixona pelo vocalista de uma banda de rock. A capa é apresentada como se fosse um doce romance adolescente; mas contém palavrões, nudez parcial e sugestão de uma tentativa de estupro feita por vários homens. (*gang rape*).

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